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"Ensinar não é transferir conhecimento..." Paulo Freire

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Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros." Bill Gates
 

Eu e a mamãe, eu e os outros, eu e o meu mundo, eu e o seu mundo - 5 anos (continuação) e um pouquinho da Prô

sexta-feira, janeiro 20, 2012

A criança de 5 anos está muito apegada a mãe. Atende-lhe prontamente, gosta de ajudar em casa, gosta que ela leia histórias. Os castigos impostos pela mãe são obedecidos. O apego é tanto que quando algo vai mal ela culpa... a mãe! A ligação é realmente muito forte.

A criança tem um pequeno entendimento entre o ontem e o amanhã, mas sua relação principal é com o agora e do eu. Então o outro ainda é algo distante. Pode distinguir o lado direito do esquerdo em seu próprio corpo, mas não consegue ainda distingui-lo no corpo do outro. Seria portanto conveniente que ao se tratar de atividades com essa percepção o professor contribua para o entendimento do pequeno, virando-se de costas para ele, assim, na mesma posição a criança começa a compreender o corpo do outro e fica maravilhada, quando percebe que por "mágica", o anel dessa mão consegue passar para aquela, até perceber que o professor apenas se virou.

OBS - Aqui abrimos margens para vários estudos. Aliás elas se abrem em todo momento, mas quero ressaltar que não vejo limites no pensamento sobre tudo o que leio e aqui escrevo. O livro de Gesell tem sido muito útil, aliado a minha prática em sala de aula, mas nem ele, nem o meu bruto conhecimento deixam ofuscadas as oportunidades de estudo que se apresentam. Sei portanto que há muito mais do que aqui está escrito. Lembro que todas as contribuições são bem-vindas, até porque uma cabeça sozinha é apenas uma cabeça sozinha...

Voltando aos pequenos... ainda não consegue perceber o ponto de vista do outro, precisa de ajuda para aprender isso.
Lembro agora de algo que já postei aqui no blog, um episódio muito esclarecedor... Era uma briga entre crianças, meninos e meninas, todos amontoados entre pequenos socos e fortíssimos pontapés (minhas canelas tem memória). Ao chegar no meio do bolo, ele se desfez. Alguns assustados, outros ofegantes, uns ofendidos e outros indignados... "Foi ela tia, foi ela!", "Não fui, foi você que me chutou!", "Foi ele tia, eu vi!", "Não foi tia, foi ela que mordeu ele primeiro e depois ela e ela me seguraram e me bateram bem aqui ó!". Sim, eu fiquei tonta, a gente sempre fica... Briga é briga! Levei todos para a sala que usava na época e nos sentamos. Um copo com água, um colo, um "Vem cá, deixe-me enxugar os eu rosto...", aos poucos foram voltando a respirar. Bem... agora tudo calmo, "Vamos lá, um de cada vez, (importante dizer isso bemmm no começo da conversa e lembrar todo segundo necessário depois) digam-me, o que houve." Estabelecida a ordem de quem deveria começar a contar a história, ouvi todos e descobri que todos tinham a mesma versão, em que mudava apenas o primeiro a ter batido. Era uma brincadeira... de bater! "Não é bater tia, é lutinha!", "É, mas você me bateu!!Grrrr!". "Calma, calma." Mais copo com água, mais colinho e fez-se a LUZ!! - Crianças acreditam que brincando de bater, como nos desenhos, não vai doer, como nos desenhos! Acontece... que dói! Então o colega a traiu, ele não brincou, ele bateu de verdade, porque doeu de verdade! Nesse instante agradeci Emília e Ana!! E ainda ao meu querido (e judiado - vergonha!) professor Pacheco. Que bom que perguntei e não tomei minhas próprias conclusões!
Adivinhem a carinha deles, os olhinhos, quando souberam que no Pernalonga, no Papa-Léguas e principalmente no bentido do Picapau não dói, porque eles são desenhos!! Mas na gente dói, sempre!!!
Foram abraços, beijinhos, pedidos de desculpas e lá se foi uma turma rindo, feliz da vida de volta para o recreio.
Um pequeno urubu (há urubus por toda parte) disse num enorme sorriso: "Ah, criança é sempre criança! Olha aí ó, brigaram feito cão e gato, agora sai tudo amontoado de novo. Já já estão brigando outra vez! É sempre assim!".
Tudo bem que podem brigar de novo, afinal que o desenho é só um desenho é algo que a gente aprende, ninguém nasce sabendo... Mas eu pensei bem comigo: " _Ah é, urubu, não estuda não pra você ver!"

Desabafos a parte, voltemos às crianças.

Pela história (real), podemos perceber como elas precisam de ajuda para compreender o mundo e o outro. Já conseguem se posicionar perante um acontecimento, mas não conseguem ainda perceber o que o outro pensa ou sente.
Ela é muito prática, não tem tantos romantismos. "A colher serve para a sopa, o pônei para montar e o pelo dele não é colorido! Só se você pintar com tinta." As fantasias exageradas a deixam confusa e aborrecida, então nada de filminhos com Barbies encantadas, melhor um que tenha animais, aventuras.

Ela já consegue desenhar uma pessoa com cabeça, tronco, membros, nariz e olhos. Como a criança já identifica quantidade, consegue fazer os dedos nas mãos em seus desenhos, que até então teriam ora um, ora outros. Consegue traçar figuras geométricas planas e algumas letras maiúsculas, fazendo às vezes comparação dessas com pessoas ou objetos que conheça.

PS -Estou um pouco perdida quanto ao tamanho dos posts, tento dividi-los de forma a não ficar com a leitura cansativa, mas se acharem que estão pequenos ou divididos demais, por favor falem e dou um jeito nisso...

Continua...

Continuando os 5 aninhos...

Grupinhos em sala de aula

A criança de 5 anos é mais ponderada que a de 4. Pensa mais antes de falar. Como já dito gosta de responsabilidades e privilégios, dos quais sinta que pode dar conta, mas não lhe agrada muito desafios, podendo explodir se sentir-se pressionada, o que logo passa.
Tem senso de humor, às vezes brinca dizendo que não fez algo que se espera dela e se diverte ao ver que as pessoas se decepcionam com isso, mas depois todos vêem que ela o fez. Então ela não é mentirosa, apenas diverte-se vendo humor nessas situações.
Gostam de aprender para sentir a aprovação social, pedem ajuda e a aceitam se sentem necessidade, como já dito, gostam de pedir licença e aguardar para tê-la. Portanto é um bom momento para se trabalhar a vida em sociedade. Os famosos combinados de sala, a discussão entre o que se pode ou não fazer e o porquê disso tudo, pois apesar de demonstrar interesse em aprender está envolvida demais no seu mundo pessoal e tem suas atitudes pelo que quer que os outros pensem dela e pelo que está sentindo por ela mesma, não pensando em comunidade.
Realiza atividades em grupo com poucos colegas, mais preocupada na sua atividade do que na do grupo. Lida bem entre meninos e meninas, sem fazer distinção, mas competindo por alguns papéis que já sejam entendidos por ela, como em uma dramatização, quem vai fazer o papel masculino e o feminino.

ESTRELINHAS

Eram 4 cores de estrelas com os seguintes valores:

Estrelas vermelhas - valiam por qualquer atividade cumprida, desde uma atividade escrita, a participação em uma brincadeira ou atividade oral, a realização de um trabalho, etc.

Estrelas verdes - valiam 5 estrelas vermelhas, ou seja, a cada 5 vermelhas, trocava-se por uma verde. Elas valiam para trabalhos mais elaborados, ou quando a turma estava desistindo de ganhar a vermelha.

Estrelas amarelas - valiam 10 estrelas vermelhas ou 5 verdes - eram essas que eram contadas no final do mês (como as crianças eram maiores o prazo para trocar a estrela podia ser estendido, com crianças mais novas recomendo fazer a troca semanalmente, ou elas desestimulam). Eram dadas para atividades complexas, como um trabalho a ser apresentado para a turma, ou escrito, um desafio resolvido, por boas ações dentro da escola.

Estrelas azuis - valiam 10 estrelas amarelas, mas ATENÇÃO, não se podia trocar estrelas amarelas em azuis!! Coloquei-as em uma caixa forrada com veludo preto, pois elas eram super especiais, eram dadas por atitudes inesperadas, descobertas, em grandes desafios.

No final do mês eu contava as estrelas, então o aluno que tivesse mais estrelas amarelas ganhava um presente. E eu dei bons presentes. Só houve um empate, entre duas alunas, as duas ganharam um despertador das princesas.

Para contar as estrelas eu contava de cinco em cinco, se não completava 5, não valia. Ex:

7 estrelas verdes valeriam 1 estrela amarela, pois 5 verdes = 1 amarela e 2 verdes não valiam nada.

No começo eu contava todas, mas as que sobravam alguns alunos recortavam e colavam na folha do mês seguinte.

Na turma do 2° ano eu mesma colava as estrelas, com o 4° ano, eles colavam. Primeiro fizemos na última folha do caderno e eles mesmos decidiram como iam organizá-las. Foi a primeira tabela da turma e haja discussão. Por fim fizeram uma coluna para cada estrela e cada um enfeitou como quis.

Depois, como as estrelas acabaram misturadas, decidimos fazer a tabela em uma folha, uma por mês, no final, quando eu contava as estrelas, jogava a folha fora e dava outra para o mês que começava. Assim não tivemos mais problemas.

Também recomendo um furador de estrelas, pois uma professora, amiga minha, recortou as estrelas e teve a infeliz surpresa de tê-las falsificadas.

Como se dá estrelas para todas as atividades é praticamente impossível que algum aluno não ligue para elas. Tive só um que falou que não se importava, mas como ele realizou um feito e ganhou uma azul, logo elas voltaram a ter importância. Não tive choro, nem reclamações por não terem ganho alguma vez. E como foram só 11 premiados (2 em um mês), achei que a turma foi bem madura.

Claro que além da equipe da escola concordar é necessário ver como a turma reage, porque sabemos que receitas didáticas só tem um resultado = fracasso! Então não fique triste, nem se sinta culpado se der errado. Isso também é aprendizado e assim buscamos novas formas de agir.

Alguns colegas criticam essa prática, dizem que é uma forma errada de se ensinar algo. Bemmm, aí temos alguns pensamentos:

  1. Eu não ensino nada a ninguém, os alunos aprendem e eu interfiro onde penso que devo, provoco, ajudo-os a pensar;
  2. Eles tinham a opção de não fazer a atividade, o que implica na nota, a estrela poderia então ser uma nota enfeitada? Não, eles não ligavam para nota, mas para as estrelas.
  3. Depois de um tempo, alguns tomam gosto por aprender e acabam nem ligando tanto para as estrelas.
  4. Alguns alunos só fazem atividade por causa da estrela. Talvez a fariam por causa da nota. Talvez não fizessem nada se não tivesse estrela...
  5. Se eu trabalho como trabalho porque recebo, se muitos vinculam a qualidade do trabalho ao valor que é pago, se o mundo vincula o valor que paga pelo trabalho que recebe, se eu vivo no capitalismo, como fazer de conta que isso não existe? Só na escola mesmo...
Aceito críticas, pois elas sempre me ajudam. Acreditem, não me matam, me fortalecem, sempre. Então, se estiver disposto a argumentar comigo, não espere, faça! Pode ter certeza de que cantarei aos quatro ventos se, juntos, descobrirmos uma forma melhor que essa de também estimular o envolvimento dos pequenos. Não estou dizendo que é a única, mas que é uma forma que encontrei, que mudo todos os anos, de acordo com a turma, com a escola, com as minhas possibilidades, com o entendimento dos pais, das crianças e meu também.

Com as crianças de 5 anos, penso que os presentes não são necessários, um carimbo no caderno, um desenho especial para ela, um "poder ajudar a professora", que lhe garante a responsabilidade de que ela gosta de ter no momento, pode ser bem mais eficaz do que um brinquedo ou um adesivo.


5 aninhos

Continuando...

A criança de 5 anos não gosta muito de contos de fadas, ou de coisas maravilhosas em excesso, gosta de histórias do dia-a-dia, que tenham a ver com família, com a vida como ela é realmente, em suas cenas domésticas.
 Descobriu o seu mundo, é uma pessoa caseira, mas o lar ainda lhe exige atenção, pois a familia mesmo é algo a se descobrir constantemente.
Pode usar linguagem de bebê ao falar com outra criança mais nova, irmã, irmão, ou não. Gosta que os pais lhe contem de quando é mais pequena, isso ajuda-a a libertar-se da infância e a identificar-se mais com o mundo em que está agora.
Não é madura ainda para abstrair situações, tem um relacionamento com o mundo da sua forma.
Apresenta forte sentido de possse, gosta  do que é seu e tem orgulho de possuir. Cuidado para não confundir isso com egoísmo, pois essa criança tem tendência em referir-se a sua pessoa, mas não é agressiva. Gosta de falar do seu  mundo e das coisas que conhece, que lhe são familiar. Para isso quando formos trabalhar conceitos que possam ser novos a ela é interessante que lhe familiarizemos primeiro.  Ela demonstrará curiosidade sobre o que não conhece ainda, tentando entender e então fará muitas perguntas, como o que é, para que serve, do que é feito, como funciona, etc.
Costuma pedir ajuda quando sente necessidade, gosta de ter pequenas responsabilidades e privilégios que possa realizar. É bom então começar já com o ajudante do dia e ter algumas premiações para cada realização da criança, eu sempre uso as estrelinhas, mas depende da equipe pedagógica da escola.

Esse ano, como estava com o 4° ano eu fiz uma reformulação das estrelas, vou contar como foi...